Saiba como a prática psicológica on-line se desenvolveu no Brasil ao longo dos anos e quais são suas especificidades e vantagens. Este texto pode ser importante caso você esteja no processo de escolha sobre qual modalidade de atendimento psicológico ou ainda caso você tenha alguma dúvida sobre o trabalho do profissional de Psicologia no contexto on-line.
É conhecido por todos nós que a inovação tecnológica levou a mudanças rápidas em muitas profissões, trazendo benefícios e desafios. A Psicologia, em conjunto com o desenvolvimento do trabalho psicológico no contexto on-line, também acompanhou e tem acompanhado estas transformações.
Como a prática psicológica on-line se desenvolveu no Brasil?
A prática psicológica mediada por Tecnologias de Informação e Comunicação (TICS), sobretudo no contexto digital, foi vedada durante muitos anos no Brasil, sendo autorizada de forma limitada a partir de 2012. Antes disso, em 2005, era permitido apenas orientação psicológica através de meios eletrônicos, ainda não sendo permitida a realização de psicoterapia (CFP 12/2005).
A partir de mudanças no cenário tecnológico, considerando reflexões e atualização da prática psicológica, em 2012 uma nova resolução criada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) regulamentou os serviços psicológicos por meios tecnológicos de comunicação à distância, sendo necessário que o profissional estivesse vinculado a um site ou plataforma autorizada.
Nesse contexto, ainda em 2012, o acompanhamento psicológico on-line deveria ser em caráter experimental e limitado a 20 sessões. Com a regulamentação de 2012 foi reconhecida também a possibilidade de realizar atendimento eventual a pessoas que estivessem impossibilitadas temporariamente de comparecer ao atendimento presencial (CFP 11/2012).
Acompanhando o cenário de inovações e desenvolvimento no contexto mundial e brasileiro, em 2018 uma nova Resolução foi lançada e ampliou a oferta de serviços mediados por Tecnologias de Informação e Comunicação, prevendo a necessidade de cadastro do profissional junto ao Conselho Regional de Psicologia (CRP). Nesse caso (e ainda no contexto atual de 2021), o psicólogo não mais necessita estar vinculado a um site ou uma plataforma, porém, deve fundamentar que a tecnologia utilizada é adequada e o trabalho metodologicamente pertinente e respaldado de forma ética, por isso o cadastro no e-Psi (CFP) é necessário (CFP 11/2018).
Como a prática psicológica on-line acontece no contexto atual?
Atualmente a prática psicológica on-line é permitida e regulamentada pelo CFP, o número de sessões não é mais limitado e as resoluções mais recentes retiraram o requisito de que o atendimento fosse realizado exclusivamente em caráter experimental. Com a obrigatoriedade de cadastro no e-Psi, o Conselho Regional de Psicologia (CRP) deve autorizar o profissional a realizar suas atividades de forma on-line.
Na Resolução CFP 11/2018 nos é informado ainda que o atendimento a pessoas ou grupos em situação de emergências e desastres ainda são considerados inadequados para o contexto on-line, estes casos devem ser avaliados e acompanhados de forma presencial. Além destes, o atendimento a pessoas ou grupos em situação de violação de direitos pessoais ou em situação de violência também devem ser realizados de forma presencial. Excetuando os casos explícitos, o atendimento on-line é reconhecido e validado pelos órgãos que regulamentam a profissão e prática psicológica no Brasil.
Qual a diferença entre o atendimento psicológico presencial e on-line?
O trabalho realizado pelo Psicólogo, seja no contexto presencial ou no contexto on-line, deve seguir a mesma qualidade metodológica, técnica, teórica e ética. No contexto digital, a prática psicológica é atravessada por desafios e especificidades, contudo, possui também seus benefícios e suas vantagens. Vejamos alguns pontos:
1. Confidencialidade das Informações
O trabalho do Psicólogo está baseado no sigilo dos dados e informações, em palavras mais simples, o sigilo é o segredo terapêutico guardado entre profissional e cliente. Uma das preocupações com relação ao trabalho on-line está relacionada à garantia da privacidade, confidencialidade e segurança. Por esse motivo, o Psicólogo e Cliente devem estar cientes sobre a importância do cuidado com as informações e realizar medidas para protegê-las. Eu, por exemplo, realizo sempre um Contrato de Prestação de Serviços Psicológicos On-line e oriento sobre a melhor forma de buscar a garantia da segurança das informações, utilizando ferramentas de comunicação criptografas e atitudes que busquem eliminar potencias violações de confidencialidade.
2. Maior Acesso, Disponibilidade e Flexibilidade
De acordo com um estudo realizado por Stoll et al. (2020) a psicoterapia on-line pode aumentar o acesso a serviços de saúde e cuidados com a saúde mental, especialmente para pessoas que vivem em áreas de difícil acesso ou áreas rurais nas quais o deslocamento ao serviço de saúde mental é mais dificultoso, facilitando a flexibilidade e economia de recursos. Sendo assim, o atendimento especializado passa a ser mais fácil de acessar e a gama de serviços torna-se mais ampla.
3. Conveniência e Satisfação
Diversos estudos apontam a psicoterapia on-line como conveniente e confortável, principalmente com relação à maior flexibilidade que oferece com relação aos locais e horários de atendimento (Stoll et al, 2020). Por exemplo, alguns profissionais não ofereciam serviços tarde da noite, por preocupações com relação à segurança do local e dificuldade do acesso noturno, tanto ao profissional quanto ao cliente. O atendimento on-line possibilita maior segurança e aumenta a possibilidade de o atendimento ocorrer em outros horários, o que tem sido considerado por muitas pessoas como importante para o início e continuidade do acompanhamento psicológico.
4. Redução do Estigma
Qualquer estigma ou estigmatização percebido associado à procura de serviços de saúde mental ou preocupações sobre ser estereotipado pode ser reduzido ou eliminado pela psicoterapia on-line. Isso pode, por sua vez, ajudar a eliminar as barreiras à psicoterapia tradicional, como preocupações com anonimato e privacidade (Smiley e VandeCreek, 2005).
Considerações
Além dos pontos aqui elencados, existem vários outros argumentos e trabalhos recentes que tem sido desenvolvido por profissionais da área de Saúde Mental em todo o mundo. Recentes pesquisas têm demonstrado não somente que a prática psicológica on-line é efetiva, como tem também desenvolvido formas de deixá-la ainda mais acessível e segura.
Sobre a Autora
Este texto foi desenvolvido a partir de estudos realizados pela Psicóloga Samantha Pires Oliveira Freitas Pedrosa (CRP 04/45158), sua reprodução é permitida apenas caso seja citada a fonte e autoria. Realizo atendimento psicológico on-line e, caso queira conhecer meu trabalho e agendar um horário, sinta-se à vontade para entrar em contato através de todos os canais de comunicação disponíveis neste site.
Referências
Conselho Federal De Psicologia. (2005). CFP N° 12/2005. Regulamenta o atendimento psicoterapêutico e outros serviços psicológicos mediados por computador e revoga a
Resolução CFP N° 003/2000. https://cadastrosite.cfp.org.br/docs/resolucao2005_12.pdf
Conselho Federal De Psicologia. (2012). CFP N° 11/2012. Regulamenta os serviços psicológicos realizados por meios tecnológicos de comunicação a distância, o atendimento
psicoterapêutico em caráter experimental e revoga a Resolução CFP N.º 2/2005. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/Resoluxo_CFP_nx_011-12.pdf
Conselho Federal De Psicologia. (2018). Resolução CFP nº 11/2018. Regulamenta a prestação de serviços psicológicos realizados por meios de tecnologias da informação e da comunicação e revoga a Resolução CFP N.º 11/2012. Disponível em: https://e-psi.cfp.org.br/resolucao-cfp-no-11-2018/
Smiley, P.A.; VandeCreek, L. (2005). Problems and solutions with online therapy. In: VandeCreek L, Allen JB, editors. Innovations in clinical practice: Focus on health & wellness. Sarasota, FL, US: Professional Resource Press/Professional Resource Exchange, p. 187–97.
Stoll, J; Müller, J. A.; Trachsel, M. (2020). Ethical Issues in Online Psychotherapy: A Narrative Review. Front Psychiatry; 10, 993, p. 1-16.